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No Meu Bairro Texto de Lúcia Vicente Ilustração de Tiago M. Editora Nuvem de Letras / Penguin |
No Meu Bairro é um livro perguntador. A pergunta de partida aparece assim que abrimos a primeira página, como será a experiência de ler um livro em linguagem neutra?A curiosidade levará cada um de nós, de certeza, a querer descobri-lo. A linguagem neutra é um tema sobre o qual tenho pensado de forma superficial e que merece um aprofundamento da parte das pessoas que, como eu, trabalham com crianças e jovens. A autora Lúcia Vicente refere na introdução que o livro foi pensado para a disciplina de Cidadania para a qual faltam materiais para uso em sala. Quando estamos a abrir-nos para conhecer algo, não temos necessariamente de ter uma ideia sobre o objecto do conhecimento. Não temos de concordar de imediato com o que nos é proposto. É possível ler este livro e, ainda assim, discordar da aplicação da linguagem neutra. A pessoa leitora e mediadora da leitura terá de fazer um esforço para suspender o juízo e praticar a disponibilidade para nos relacionarmos com algo que nos aparece como novo e envolto nalguma opacidade. No Meu Bairro consegue agregar em 48 páginas uma série de temas sensíveis: a identidade de género, a religião, as doenças auto-imunes, o racismo, a homossexualidade, o bullying, a imigração, a xenofobia, a deficiência, o feminismo, a depressão. Estes temas são desafiantes e difíceis de abordar com crianças, jovens e pessoas adultas. Quando se abre o diálogo a partir destes temas não sabemos bem que perguntas ou comentários podem surgir. E se alguém naquele grupo manifestar uma ideia racista? O que pode fazer a pessoa que está a mediar a leitura? O que deve fazer a pessoa que está a mediar a leitura? Não tenho uma resposta única para esta pergunta. Depende do contexto, da relação que temos com o grupo com o qual estamos a trabalhar, depende do tom e das palavras usadas na ideia |
PERGUNTAS
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Joana Rita Sousa |
A Inundação Texto e ilustração de Mariajo Ilustrajo Editora Fábula / Penguin |
A editora fábula dedica-se a livros infantojuvenis e pretende satisfazer um público exigente e atento que procura qualidade literária e gráfica. Habituamo-nos à qualidade do catálogo da fábula. Nele descobrimos A Inundação, da ilustradora espanhola Mariajo Ilustrajo, um livro repleto de pequenos detalhes. Cada página evidencia a graciosa harmonia entre texto e a ilustração oferecendo ao leitor um livro belíssimo. Imaginem que a cidade habitada por animais está lentamente a ser inundada. Uma inundação? Porque terá acontecido? Choveu assim tanto? A cidade estava um pouco molhada. Ninguém deu muita importância. Alguns animais divertiam-se com a situação … chapinhavam nos pequenos charcos de água, outros encontravam a oportunidade de usar as galochas e até a escola parecia mais divertida. Gostas de caminhar chapinhando nas poças de água? Afinal, de onde viria aquela água? Seria possível escoar toda aquela água? As vidas dos habitantes continuavam “ao seu ritmo natural, para cima e para baixo”, sem ninguém dar grande relevância ao que estava a acontecer. Pouco a pouco a diversão deu lugar à preocupação. Havia um problema por resolver. Quando é que poderemos afirmar que estamos perante um problema? O problema será entendido da mesma forma por todos? O que alguns temiam, aconteceu! A água atinge uma altura desmesurada e todos concordam que é necessário reunir sinergias para encontrar uma solução. Conseguirão? Os livros perguntadores podem não apresentar perguntas na capa ou mesmo no interior, durante a leitura de A Inundação, encontramos duas perguntas explícitas - por perguntas entendemos uma frase que termina com um ponto de interrogação-, mas nele habitam muitas perguntas. Os livros perguntadores são livros que nos convocam a curiosidade, ampliam o pensamento e proporcionam uma certa tensão na leitura. É um livro que nos inquieta, que chama por nós, que incomoda, que nos induz no exercício da incerteza e imaginação, que amplia a nossa curiosidade e que faz perguntas. Um livro perguntador resulta num trampolim no sentido da construção de sentidos e da exploração de significados, seja do texto escrito, da ilustração, do formato do livro ou das guardas. Em A Inundação encontramos a peculiaridade do elemento cor, esta marca o ritmo, mas também nos suscita perguntas: A água tem cor? Que quantidade de água existe no mundo? Onde poderemos guardar a água? Quem pode viver dentro de água? |
PERGUNTAS:
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Júlia Martins |