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Ecologia
Joana Bértholo
Editorial Caminho
“Candela é diferente. Todos os pais acham que os seus filhos particulares e especiais, não duvido que sim, mas. É mesmo diferente. Não vejo outros miúdos a pôr tudo em causa como ela põe. Com as palavras é excessiva, (…) extremamente cansativa. Dou por mim a ler sobre filologia, lexicografia, etimologia, estudos semânticos, e doutorei-me em palavras cruzadas, para saber sempre como definir uma palavra sem a nomear.” (Ecologia, pág. 65)
“No café da esquina, Carolina vai encontrar um pequeno grupo de leigos em disputa acesa em torno do uso de watashi ou boku em lugar da primeira pessoa do singular. Aborda-os. Faz-lhes perguntas.“ (Ecologia, pág. 125)
Ecologia é um romance singular, inovador, reflexivo e maravilhosamente desenhado. É um livro para ler devagar, pensar e refletir, mas também para questionar e questionar-nos. Ousaria afirmar que é um verdadeiro livro perguntador. Nele habitam tantas perguntas e muitas outras são suscitadas pela leitura. Recomendo que durante a leitura tenha, por perto, um caderno e um lápis para registar as perguntas que vão surgindo. Mais tarde, volte a pensar nas perguntas, podendo guardá-las, abandoná-las ou reformulá-las. É um bom exercício!
Em Ecologia encontrei muitas perguntas, como por exemplo:
As palavras têm prazo de validade?
O que surgiu primeiro a ideia ou a palavra que exprimiu a ideia?
Como se diz uma palavra impronunciável?
Uma língua órfã pode ser adoptada?
O mundo iria ser diferente se eu aprendesse palavras diferentes para as mesmas coisas?
Sentimos emoções para as quais não temos nome?
Porque é que o passado é «imperfeito»?
Quantas caras terá o silêncio?
Por que é que «centopeia» e «centésimo» têm de ser duas palavras diferentes?
Julia Martins